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A escala de trabalho 6X1 representa uma das mais duras expressões da exploração trabalhista contemporânea, ecoando, de forma perversa, princípios observados por Karl Marx sobre a exploração da classe trabalhadora e a alienação do trabalho.

Marx argumenta que o capitalismo, em sua busca incessante pela maximização do lucro, subjuga o trabalhador ao papel de mero instrumento de produção. A 6X1 exemplifica essa tese ao expor o trabalhador a jornadas intensas, com tempo de descanso insuficiente para a recuperação física e mental.

No Brasil, no qual a renda média do trabalhador é baixa e os direitos trabalhistas perderam forças, essa prática tem impactos ainda mais devastadores. Dados do IBGE revelam que a duração prolongada de trabalho e a escassez de dias de descanso estão diretamente relacionados a problemas graves de saúde.

Essa situação contribui para o aumento de casos de burnout, uma síndrome resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho. De acordo com a International Stress Management Association (ISMA-BR), o Brasil é o segundo país com mais casos da doença no mundo, afetando cerca de 30% dos trabalhadores. A pressão por produtividade em um país que já carrega desigualdades históricas transforma a vida de milhares em uma batalha constante contra a exaustão.

Essa condição foi ainda agravada pela reforma trabalhista de Temer, em 2017, que flexibilizou regras em nome de uma suposta modernização das leis trabalhistas, mas que, na prática, enfraqueceu as proteções ao trabalhador e aumentou a vulnerabilidade da classe.

Uma análise dos impactos econômicos em países que revisaram escalas de trabalho mostra que a diminuição das jornadas não prejudicou os empregadores. Pelo contrário, muitas empresas em países como Suécia e Islândia, que implementaram semanas de trabalho reduzidas, relataram aumento na produtividade e melhora no bem-estar dos funcionários.

A manutenção da 6X1 e práticas similares muitas vezes está mais ligada a uma resistência cultural e à busca pelo máximo lucro, sem consideração pelo bem-estar do trabalhador.

O Brasil, marcado por um passado escravocrata, herda a lógica da desumanização do trabalho. Durante séculos, a força de trabalho negra foi escravizada, estabelecendo uma base social e econômica de desigualdades que ecoa até hoje. A manutenção de sistemas de trabalho extenuantes de folgar apenas um dia perpetua essa história de exploração perversa e segregadora e impede a construção de uma sociedade mais democratizada.

A divisão internacional do trabalho, definida pelas relações desiguais entre o Hemisfério Norte e o Sul, impõe ao Brasil uma estrutura de dependência que perpetua condições de trabalho degradantes. A busca por competitividade global faz com que o país mantenha políticas que sacrificam o bem-estar do trabalhador em nome de um crescimento econômico que beneficia, em grande parte, elites e conglomerados transnacionais.

Essa injusta divisão, imposta pelos centros hegemônicos do poder, precisa mudar. O país precisa se industrializar e incentivar a ciência e tecnologia em vez de ser mero exportador de commodities.

O cenário atual deve servir como estopim para uma transformação profunda. O Brasil necessita urgentemente de reformas que coloquem o trabalhador no centro das políticas públicas, garantindo condições dignas e justas de vida. Para que isso aconteça, é essencial que se promova uma revisão das leis trabalhistas, que em suma são anti-trabalhadores, e que se combata a exploração e se reconheça a contribuição vital da classe trabalhadora para a nação.

O país precisa de reforma agrária, reforma política, reforma previdenciária, da urgente taxação de fortunas, auditoria cidadã da dívida pública, da renda básica universal, entre outras. Somente assim, poderemos superar as heranças coloniais e de atual submissão neocolonial e assim forjar um país que realmente respeite e valorize a sua população.

O problema do Brasil não é a falta de riqueza, mas sim de distribuição.

Fotos: Ana Carolina Eulálio

Foto 2: Trabalhador informal na Esplanada dos Ministérios, em 2017. Dados de 2023 demonstram que 39% dos trabalhadores brasileiros são informais, eles chegam a fazer mais de 48h por semana e em maioria ganham em média um pouco mais que um salário mínimo por mês.

 


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