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A produção de Gu traz o conceito do direito e dever de “contravigiar”, dessa forma o chamamento de reflexão não é somente para a posse de direitos constitucionais de viver o espaço urbano, a mobilidade e a privacidade, mas convite para ação prática e ativa sobre a construção do que é coletivo e do que é público

Vigie, corpo-transporte! agrupa trabalhos do artiste que se entrelaçam, em vídeos, em objetos e em fotografias. A mostra tem curadoria do artiste, pesquisadore e arte educadore pernambucano, Elilson Nascimento. A exposição ocorre de 9 a 30 de abril, das 14h às 18h, na Galeria Risofloras, em Ceilândia e tem entrada gratuita.

Gu é um artiste visual que gosta de realizar intervenções urbanas e com elas provocar a reflexão e recontar a história, reivindicando as reais identidades de espaços públicos.

Casos de “Aqui cabe uma praça”, placa instalada na calçada da Caixa d’água de Ceilândia, e outra na “Vila do IAPI – Esse território pertence à Ceilândia”, instalada em frente ao Museu Vivo da Memória Candanga, território que abrigava famílias removidas para Ceilândia e que, hoje, é um Setor de Mansões. Neste, claramente as famílias, na época, não foram removidas por questões ambientais, mas sim de interesses de classe social, com a famosa pratica do higienismo urbano.

“A placa instalada por mim, em 12 de setembro de 2021, no Dia do Candangofoi para demarcar o território que é de Ceilândia. Em 1971, a Campanha de Erradicação de Invasões removeu milhares de pessoas para Ceilândia, local, que na época, não tinha infraestrutura urbana ou comunitária. A transferência da população para a região localizada a cerca de 30 km do Plano Piloto acarretou em drástica queda na qualidade de vida das pessoas”, afirma Gu.

Nas projeções a laser que realizou, no ano passado, na Caixa d’águaponto turístico e marco histórico de Ceilândia -, ele homenageia a população da cidade, estampando, como em hackeamento, frases no monumento: “Terra dos incansáveis”, “Somos invasores”, “Isso é uma invasão”.

“Os ceilandenses “não são invasores” como afirmava a Campanha de Erradicação de Invasões na consolidação de Brasília; e se “isso” – a intervenção urbana e artísticaparece uma “invasão”, que fique bem enunciado para todes que, afinal, “O Brasil é uma invasão”, resume Elilson.

O artiste reivindicou e conseguiu os registros de imagem dele no sistema de reconhecimento facial de ônibus do DF e torna as imagens presenças públicas na cidade, colando os frames em vários locais.

Gu parece se transmutar em uma plataforma coletiva, nos lembrando de que nossos corpos – transportes de singularidades – afetos, histórias, memórias e percursos – têm sido tomados, capturados, registrados e disseminados como meros transportes de dados“, afirma Elilson, curadore da exposição.

Chamar atenção para espaços e possíveis construções que possam ser realizadas neles faz parte do papel da Arte engajada. Gu inspira-se no movimento Cinema Novo (1960 – 1970), nos movimentos vanguardistas, na arte urbana, na qual a transgressão, de certa forma naturalmente, faz-se presente e no, subgênero alternativo, cyberpunk.

“Enquanto artiste, eu busco inserir no cotidiano das pessoas provocações que promovam pensamentos revolucionários. Então, ao realizar intervenção urbana em espaços, como a Caixa d’água ou nos ônibus da rodoviária do Plano Piloto, acho que isso instiga as pessoas a refletirem sobre as diversas expressões que podem ocupar estes espaços e como eles podem ser reconstruídos e/ou reimaginados”, conclui ele.  

No vídeo Furar Passagens (2021), Gu está em um ônibus de linha e tatua, em seu próprio corpo, o percurso e desníveis topográficos.

Em Passa em Sobradisney (2019), ele usa imagens do sistema de reconhecimento facial do transporte coletivo para criticar o atual governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que à época, contraditoriamente, queria restringir o passe livre estudantil e trazer a Disney para a região de Sobradinho.

Sobre a galeria Risofloras

A Galeria é lugar de ação, experimentação e formação da nova geração de artistes ceilandenses (mas, nem só) e nasce para construção e rompimento de pontes entre os universos da arte contemporânea.

Ela foi inaugurada em 2018, e recebeu o nome em homenagem ao coletivo de mulheres artistes urbanas criado no Jovem de Expressão. O intuito é promover a descentralização da “produção cultural” e incentivar o desenvolvimento local.

Galeria Risofloras, umas das poucas do tipo fora do Plano Piloto, é espaço de impulsionamento de jovens talentos que trabalham em busca de oportunidades e reivindicam territórios próprios de valorização das artes.

Salienta-se a urgência de transformar espaços de opressão em espaços de descoberta e experimentações artísticas. O espaço, atualmente ocupado pelas artes e culturas, era um posto policial abandonado.

Sobre o artiste  

Gu da Cei (1996) é ceilandense filho de maranhenses, ele vive e trabalha em Ceilândia, é artiste visual, produtore cultural, curadore da Galeria Risofloras, bacharel em Comunicação Social e mestrando em Artes Visuais pela UnB.

Ele desenvolve trabalho artístico no âmbito da intervenção urbana, da instalação, da poesia, da performance e do vídeo, e busca compreender as possibilidades dialógicas entre processos históricos contemporâneos da fotografia, bem como espaços de exibição e circulação desta.

O artiste discute vigilânciaimagemdireito à cidade e ao transporte coletivo. Ele ganhou o Prêmio de Arte Contemporânea Transborda Brasília e foi selecionado para o Prêmio EDP nas Artes, realizado pelo Instituto Tomie Ohtake. 

Ele integra a coordenação do Festival Foto de Quebrada. Alguns trabalhos dele podem ser conferidos no livro “O Direito Achado na Rua: Introdução Crítica ao Direito à Comunicação e à Informação”. www.gudacei.art.br

Sobre o curadore

Elilson é artiste, pesquisadore e professore, doutorando em Artes Visuais na USP, é Mestre em Artes da Cena pela UFRJ e Graduado em Letras pela UFPE. O foco das pesquisas dele são as inter-relações entre arte da performance e mobilidade urbana.

Ele publicou dois livros: “Por uma mobilidade performativa” (Editora Temporária, 2017) e “Mobilidade [inter]urbana-performativa” (via Rumos Itaú, 2019).

Em 2018, foi contemplado com os prêmios Rumos Itaú Cultural e EDP nas Artes do Instituto Tomie Ohtake, no qual realizou residência em R.A.R.O (Buenos Aires, 2019), entre várias outras realizações.

Serviço | Vigie, corpo-transporte!: primeira exposição individual de Gu da Cei

Data | De 9/4 a 30/4 de 2022

Horário de funcionamento | De segunda a sábado, das 14h às 18h

Entrada | Gratuita

Endereço | Galeria Risofloras

Endereço | Ceilândia Norte EQNM 18/20 – Ceilândia, Brasília – DF, 72210-553

Instagram | @gudacei @tachotte.co


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